14.12.09

AMPLIADA


Como a chuva só caiu no Norte, a periferia da cidade ainda estava seca. Folhas secas, e animais com sede. O Sul já não sabia o que era água limpa.
Não tinha transporte de água. Era perda de tempo achar que alguma gota cairia nas flores do Sul. Ninguém se importava com o interior, com o Sul, com a periferia.
Algumas nuvens migravam para o Centro, onde achavam graça ver metade, ao norte, verde, e metade, ao sul, cinza. Cores alegres e tristes se dividem porque eu não ultrapasso esta linha. Eu faço alguma coisa.
Foi então que o Centro, se sentindo área de transição entre o bem e mal, entre o verde e o cinza,entre os pampas e florestas, resolveu criar uma mistura. Nasceu então algo que hoje eu denomino de Lupa. A lupa nasce aqui: no cansaço dos olhos do Centro em ver que existem desigualdades.

A lupa é a responsável por eu ser assim. Por eu num ser nem meu Norte, nem meu Sul. Por eu ser meu Centro ampliado. Tentando me ampliar a ponto de fazer o Norte e o Sul vazarem pelo litoral.
Nada de verde e de cinza no meu país. É proibido eu querer um arco-íris? E que mandem prender a Nuvem responsável por isso, por mero capricho não distribuiu a água vindo dos oceanos, aqueles gigantes engolidores de dores.
Estou pronta, eu, Centro Ampliado, vou fazer desse mundinho algo inacreditável. Só não sei quando, nem sei como, nem sei com quem, e por quem. Só cansei de usar verde e cinza, opostamente. Amplio aqui, amplio ali e enxergo que moléculas e átomos vão se juntar, se fundir, se amar e vão formar, vão criar, vão satisfazer as minhas necessidades. É simples se a gente pensar assim.
Mas ser lupa não é fácil. Ser ampliada então, puf, é doloroso demais. Tudo vem grande demais. A formiga? Parece que a tua picada é patada de elefante. Os sons? Parecem berrantes elétricos no carnaval de Salvador. Ser ampliada é pra poucos, nem todos agüentam ser transparentes e refratantes como eu estou agüentando. Às vezes eu acho que o Norte e o Sul vão me esmagar, e até podem me inundar, deixando as águas marítimas entrarem por esses córregos que não sabem que são rios.
Não quero ser assaltante, não quero roubar nada de ninguém. Cada região merece o que o Sol lhe proporciona. Entretanto estão pedindo demais quando falaram para eu tentar enxergar as minúsculas razões do amor. Até eu, que amplio até a célula do cabelo do elétron, sinto dificuldade em achar, entre todas essas nano ramificações capilares do amor, as razões de sua existência.
Talvez eu um dia mapeie seus genes, quem sabe um dia eu defina o Amor velho, o Amor novo, Amor bom, o Amor ruim e por ai vai. Quem sabe...
Mas enquanto isso, eu tento me ampliar, ampliar, ampliar para espremer o verde e o cinza, quero dizer, o Norte e o Sul. Ninguém precisa de coisas boas e coisas ruins, nem nuvens egoístas, que não fazem as coisas se tornarem mais fáceis, para atingir o seu principal objetivo: descobrir por que o amor existe.

3 comentários:

Sunflower disse...

a coisa mais linda que li hoje.

meus instantes e momentos disse...

muito bom o texto. Parabens , muito bom.
Gostei daqui.
Maurizio

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

concordo com a galerinha ae de cima... gostei e foi tbm a coisa mais linda q li hoje...

me deu vontade de guardar o texto aqui no meu comp., até... (claro q com os devidos méritos a autora maraiá ortolan...)... posso? posso? posso?...

*se o verde e o cinza não tão combinando mto, tenta uma cor que não pertença ao espaço...

ah, mais um abs p meu arsenal de vale-abraço's (risas... vc se lembra deles?... tem anotados todos eles ae p gente ficar quites qdo se esbarrar por ae?)

bai bai.