21.2.10

Uma felicidade para ontem, por favor.




  Descubro, ou melhor, ainda quero descobrir aonde é o limite da dor. Qual é o fato ou desastre que te permite gritar de dor, te permite ser louca e rasgar as roupas, quebrar copos, derrubar as coisas da mesa? O que precisa acontecer na tua vida para que alguém te perdoe quando você derrama uma lágrima?
É preciso morte? É preciso perda? É preciso saudade ou tristeza? Por que você ultrapassa o limite da dor?
Escutar uma reclamação é normal. Ter vontade de desabafar com um amigo ou com o analista é normal. Agora sentir teu peito em chamas, olhar fotos e ter vontade de incendiá-las, quebrar lápis com a própria mão, rabiscar uma folha até rasgar isso não é normal, ou até seja, por isso você se da o direito de ser uma normal que não tem limite de dor.
O quanto você sofre é o quanto você se importa. Se você chora pelo teu ex namorado, você se importa não que você se importe necessariamente com ele, mas você se importa com o que ele foi, o que ele deixou em você, o que o tempo não conseguiu apagar em você. Se você chora pelo teu pai, pela tua mãe, pelo teu filho, pela tua filha, significa que você se importa. Você tem por eles uma coisa inexplicável, que pode passar de ódio absoluto a gratidão em um piscar de olhos. Essa inconstância de sentimentos, essa mutação instantânea te da uma vulnerabilidade enorme, e você se vê refém do seu psicológico, você se sente refém das pessoas, das coisas, de tudo que te desperta afeição, qualquer que seja a afeição.
E não adianta você querer padronizar, definir ou explicar todas essas sensações, elas são únicas assim como você também é único. Não importa se você é normal, ou “anormal”, não importa se você é novo ou velho, e nem importa, as vezes, se você é homem ou mulher. Todos, necessariamente todos, temos sentimentos iguais, temos as mesmas sensações, algum dia de nossas vidas, a diferença, o que te faz ser normal ou “anormal”, é a intensidade com que se vive tudo isso, a diferença é a perspectiva de vida que você tem. Se para alguns a vida é uma passagem curta, para outros a vida não passa de uma longa viagem que se deve ser aproveitada cada segundo. É perspectiva, não adianta. Não adianta você me ensinar a ser feliz, mesmo que eu grite e te implore por respostas, você sabe, eu sei, que não há respostas, porque as perguntas mudam a todo tempo. As perguntas mudam, as pessoas mudam, a vida muda. Pra que respostas então? Se agora elas estão certas e mais pra frente elas nem fazem mais sentido
Assim é fácil, né? O problema é quando você esta tão perdida que esta disposta até pegar o caminho errado, mas só pra não estar mais sem rumo. Você não sabe quando as coisas vão mudar então você vive essa ilusão de que nada esta girando, que o mundo não esta dando a tua volta, você tem a falsa sensação de que tudo este estagnado e você perdendo tempo. Mas não é assim. O mundo gira, o sol nasce e morre. Você abre e fecha os olhos, as plantas respiram, os animais comem e dormem, você canta e fica em silencio... Tudo é um ciclo, e esse ciclo não para, mesmo que você ordene, ou que você grite para alguém parar a “máquina”, não adianta, não a força que faça o universo parar de conspirar. É ai que você se sente tão insignificante: você ta triste e o mundo não te entende. Você ta deprimida e o mundo te exige sorrisos e “bom-dia”. Então quem é você que não consegue nem o respeito do mundo? Você não consegue a compreensão do mundo. Insignificante. Ninguém sente a tua dor, nem tua alegria, nem teu amor.
Com tudo isso, acho que somos mesmo uma coisa louca. Uma coisa, porque nem humanos estamos mais parecendo. Toda essa arrogância, toda essa falsidade e culpa nos consome e somos insignificantes ainda. Pode chorar, pode rir, ainda é insignificante. O mundo é grande, e se ele for dar conta de cada habitante seu, acho que não sobraria ninguém totalmente remendado. O mundo remenda, mas devagar. E a gente quer pressa, agora, desse jeito, sem mais nem menos.
Temos medo de esperar para ver o que vai acontecer. Você tem medo de mudar porque não sabe qual é a próxima fase que você vai enfrentar. É o mesmo de você querer comprar roupa de frio se ainda não chegamos ao inverno. É confuso. É vida. É insignificante essa preocupação, mas não há quem consiga viver sem esperar, viver sem querer, viver sem pressa.
Pressa tola a gente tem. Pressa de ser feliz, porque não agüenta mais chorar e olhar que ninguém pode te ajudar. Ajudar a ser feliz é ridículo, Você é feliz quando se sente feliz. Não é algo que vem de fora, e sim de dentro, e isso, esse fato de que a felicidade esta dentro de nós, eu não entendo, eu ainda sou boba de pensar que alguém vai trazer a minha felicidade em uma bandeja.

4 comentários:

Thai Nascimento disse...

Se ninguém vai mesmo me trazer a felicidade, eu acredito que ela depende de mim, está dentro de mim.
Sim, só sofremos se nos importantos. E sofremos tanto quanto nos importamos.

Mariana ^^ disse...

" É ai que você se sente tão insignificante: você ta triste e o mundo não te entende. Você ta deprimida e o mundo te exige sorrisos e “bom-dia”. Então quem é você que não consegue nem o respeito do mundo? Você não consegue a compreensão do mundo. Insignificante. Ninguém sente a tua dor, nem tua alegria, nem teu amor."

Exatamente o que eu acho! *.*
Tu escreve mto bem e tem uma noção de sentimento enorme. Ótimo texto. E triste, ao mesmo tempo. Acredite: eu consigo te entender um tiquinho, Mary... Porque, mesmo que achemos, na verdade, nós não estamos sozinhos, certo? O mundo não caminha sozinho. A vida não caminha sozinha. Os seres humanos, mesmo que caminhem errado, não caminham sozinhos. É como o ator. Mesmo sendo um monólogo, ele não consege, não pode, não deve trabalhar sozinho. Existem por traz deste ator várias pessoas, que também não estão sozinhas. Precisamos abrir o coração e falar abertamente o que sentimos. Eu também, e principalmente.
Conta comigo sempre, Mary. Vc sabe disso.
BjoOm.

PS: sobre esse trecho q eu coloquei, faço minhas as palavras de Renato Russo: "Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida. Ou fingir estar sempre bem, ver a beleza das coisas comuns" - "A Via Láctea".

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

um texto 'maduro' e 'apaixonado'.. como é possível?.. risas...

grande Malú.. vc some, mas ainda assim é capaz de alegrar o meu dia aqui..

abraço grande... saudades,
bai.

Lorena disse...

Olá Mariá.
Adorei seu texto!
Então pergunto: se a felicidade vem de dentro porque sempre esperamos que ela bata á nossa porta?
É amiga...vidinha contraditória mesmo.
Bjs