24.12.12

Natal, Deus e dor



Às vezes penso que Deus é apenas uma ferramenta psicológica para manter ordem onde há caos.

Falar que Deus tem muitos a atender, e por isso seus pedidos ainda não foram realizados; dizer que Deus olha por você; dizer que Deus tem um tempo diferente do seu, que Ele guarda um futuro bom, só tem que ter paciência. Tudo isso é para confortar e não deixar você entrar num surto psicótico.

Deus. Religião. Igreja. É tudo para não te fazer louco. Acha mesmo que uma mãe suportaria a morte de um filho se ela não tivesse “Deus” ao seu lado? O quanto é difícil passarmos por certas coisas sem saber o por quê? É bem mais fácil acharmos que merecemos isso, ou que “há males que vêm pra bens”. É tudo uma ilusão criada para que não caiamos no fundo do poço.

Aguentar a vida como ela é, nua e crua, não é fácil. E não é só Deus que dá forças não. Talvez você encontre “Deus” em outras coisas. A maioria dos ateus, por exemplo, encontraram Deus na ciência, nos livros, nas bibliotecas e nos laboratórios. Os bêbados encontraram Deus na cerveja. E por ai vai.

O que eu quero dizer é que, se formos olhar historicamente, criou-se Deus como uma forma de “moralizar os bárbaros”. E então? Somos bárbaros que precisam ser moralizados? E se a dor foi feita para se suportar e não para se evitar? Tenho pensado muito nisso...

Escrevo isso porque é Natal e porque estou sofrendo.

Lembro que na época mais difícil da minha vida eu “virei” religiosa. E isso ajudou, mas não quer dizer que seja verdadeiramente um Deus supremo, talvez isso queira dizer que naquele momento eu precisava de um “suporte psicológico”.

Pessoas procuram a Deus porque acham que sua autonomia está comprometida. Pessoas rezam, pedem proteção porque acham que não conseguem se protegerem sozinhas, ou que a polícia dê conta do serviço; rezam antes de viajar porque acham que as rodovias podem ser perigosas demais, e não tem nada que possam fazer em relação a isso, mas Deus pode. Pessoas agradecem a Deus porque temos uma péssima mania de achar que o que conquistamos não foi do nosso esforço, foi Deus que ajudou. “Esse carro foi Deus que me deu”. É complicado. Voltando à História, em épocas medievais, a era escura, onde existiam os mais diversos tipos de medo, as pessoas precisavam se proteger de algo forma, e os espertos foram muito espertos quando introduziram o conceito de Deus supremo, salvador e misericordioso.

E não é só isso que me incomoda, não. Incomoda-me o fato de alguns conceitos morais embutidos nessa onde de Deus serem propagados como simples “bom dia” e “boa noite”. Se formos parar para pensar, até a Constituição é baseada nos 10 mandamentos da Igreja! Não sei, tenho medo de que estamos sendo “protegidos” por algo que não existe, um placebo. E é ai que me sinto hipócrita para rezar. Podíamos entrar no assunto fé agora, mas melhor não, já avisando que sou uma descrente total.

E então você se olha e vê o quão “suja” você é. Você tem egoísmo no seu coração, você tem raiva, você tem ódio, você tem inveja, ciúmes e preguiça. O que fazer? Antigamente havia a autopunição, não que hoje esteja diferente, só trocamos os açoites pelas drogas. 

Você se vê como uma pessoa humana ou como um desmerecedor do amor alheio?

Amor. Quantos e quantos textos já não escrevi falando sobre amor e cá estou eu morrendo por causa disso. Amor que mata é amor? Falam tanto que não é saudável certos tipos de amor, que amor de verdade não faz sofre e blá blá blá. Sinto muito, mas se for assim o mais clássico amor, Romeu e Julieta, não era amor, era uma pirraça de família.

Enfim, me perdi um pouco, mas em essência, o que quero dizer é que Deus é placebo, Natal é jogada de marketing, só que, os dois funcionam! Você pode escolher ir atrás de coisas mais profundas, uma meditação talvez, ou pode contentar-se com Deus, Natal, Paz e Amor – mas não que isso seja menos do que meditação. Você tem que encontrar a sua muleta, tem que encontrar o remédio que te dê menos efeitos colaterais.

Por isso, um Feliz Natal a todos os ateus!

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