Eu era como o vento que batia no rosto de quem quisesse
passar pela ventania. Eu era como a tristeza pairando sobre o mar, como o
brilho do Sol refletindo nos óculos. Eu era digna de uma pseudoliberdade
proporcionada pela libertinagem. Eu era, e ainda acho que sou, mas você insiste
dizer que essa eu não sou.
Quer saber, eu estou chorando aqui, ou melhor, coloquei Cazuza e estou esperando as lágrimas cairem. Você está do outro lado do celular,
você acha que está comigo e que está suprindo a falta que eu acho que sinto de
você. Mas nada disso ocorre. Sinto raiva de você por minha culpa, por causa das
minhas contingências, porque sou eu que gosto do drama mexicano, sou eu que eu
suplico amores tranquilos e faço cada momento em silencio ser uma tortura em
vão. Essa sou eu que você insiste em achar que não sou.
Pelo menos uma coisa que você disse foi certa: “Deve ser
porque faz tempo que você não sente isso”. Mas querido, tem um motivo para
fazer tempo que eu não sinto isso. Eu não quis sofrer, não quis me envolver
nessa lama que é “amar”. Escolhi! Por que uma coisa que eu aprendi foi que o
amor é escolha, e não acaso.
Acho que gosto de sofrer.
[...]
Ainda bem que eu tenho o futuro para apostar.
Porque eu sei que você vai passar, como os outros passaram,
então eu tenho que apostar no cara que tá no futuro, que ele sim será quem
durará. Mas minha consciência me lembra que o cara do futuro uma hora terá que
ser o do presente, então o que acarretará que ele será, automaticamente, do
passado. Ou seja, nem eu sei em qual tempo verbal eu quero estar. Se for pro
futuro, ele será do presente. Se for pro passado nada acontecerá de chances e
probabilidades de felicidade. Estagnarei no presente a espera que homens do meu
passado me resgatem e que os homens do futuro se tornem bons o suficiente para
permaneceram na inconstância do presente. Porque só o presente é instável,
passado é passado e futuro eu que decido. Presente é uma bosta porque ele
controla você.
Sinto-me como um bicho enjaulado após “fazer coisa errada” e
sendo punido por aquilo. Ele está lá, salvo, salvo dele mesmo e do mundo. Salvo
porque ali ele não faz mais burradas que o machucarão e que machucarão o mundo.
Prender-se é salvação. Ai vem um asno e te solta, ou melhor, abre a jaula e te
mostra a vida lá fora, como ela poderia ser linda, como ela poderia ser bonita
caso você saísse da jaula – me veio à cabeça o mito da caverna, então façam
toda a analogia, dispensando meus comentários.
Ai você sai. Você vai de mansinho ou se joga com tudo? Se eu fosse um leão iria
de mansinho, meio “macaco velho”; se eu fosse um coelho, sairia de mansinho,
cheirando as coisas primeiro, investigando o território; mas eu sou mulher e
saio mergulhando de cabeça e tudo.É claro que eu mulher odiarei secretamente o filha da puta que abriu minha jaula, não tão secretamente quanto eu queria, mas enfim, é ódio, explícito ou não, faz mal do mesmo jeito. Faz chorar do mesmo jeito, faz doer do mesmo jeito, faz você se sentir uma cadela do mesmo jeito, amando e odiando a mesma pessoa. Porque vocês sabem, liberdade é uma prisão e estar numa prisão é uma liberdade entre quatro paredes. E eu provando que os opostos estão sempre juntos na hora de compará-los. Então não existem opostos, existe ausência.
“Tentar ficar amigos sem rancor”.
[...]
Poderíamos estar juntos, mas alguém lá em cima diz que isso
ainda não é permitido e não será tão cedo. Aliás, eu não quero me permitir. Eu
preciso não te atender amanhã, eu preciso parar, descer, e tomar uma água,
preciso frear nessa dor que eu posso te provocar. Preciso parar de fazer o amor
ser o vilão. Preciso dar um tempo pra minha cabeça coordenar o coração, ele tá
fraco e se enganando dizendo que está pronto pra próxima. Eu preciso não gostar
mais das pessoas, e dizer pra elas como me sinto. E parar de ser tão
patológica, de ser tão víscera.
Tempo, tempo pra aprender. Tempo não ensina, o tempo por si
só não ensina. Preciso de tempo e algo mais. Procuro esse algo mais... não foi
o álcool, não foi a liberdade e não está sendo você.
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