13.10.12

O amor transforma



Eu fiquei pensando nessa frase a noite inteira e um pouco dessa manhã. Eu ouvi-a por causa de uma clássica discussão: Capitu traiu ou não Bentinho? A questão do meu texto não é discutir a possível traição – e que vocês saibam, eu não acho que Capitu tenha traído Bentinho – mas é que o interlocutor da minha discussão sobre o livro ontem usou esse argumento: “O Amor de Bentinho por Capitu transformou-o”, e no caso transformou o coitado para pior, né. Enfim, o amor transforma.

Concordo que o amor, como qualquer outra força, causa impactos e deslocamentos e é regido pela lei da ação e reação, e se bobear até pela lei da inércia ele é regido, mas a culpa é de quem? É a força por si só que transforma ou o que transforma é o “fornecedor” dessa força? No caso da discussão de ontem, meu amigo acusou Capitu te ter usado o amor que Bentinho sentia por ela para manipulá-lo, e por isso ele se transformou no que se transformou – e de novo eu digo que não concordo com essa visão um tanto quanto machista!

E então? O amor transforma, não transforma? Se formos pensar nas energias cósmicas do Universo e no equilíbrio da vida, sim, o amor transforma porque você nunca é o mesmo, e essa experiência de amar ou ser amado, ou ambos, te modifica sim, mas o que me deixa intrigada é saber se os indivíduos têm essa consciência, e se as pessoas sabem que isso não é culpa necessariamente delas. Capitu teve mesmo culpa de Bentinho amá-la patalogicamente? Teve Capitu a intenção de tudo isso? Ela sabia que o amor poderia virar aquilo que virou? O problemático era Bentinho e sua relação Freudiana com a mãe ou o problema era Capitu que seduziu fria e calculadamente o pobre do Bentinho, que por amor, ciúmes derivado do amor, fez o que fez, sentiu o que sentiu?

Eu amo alguém e acho que esse alguém me ama, e vejo que esse alguém está sendo transformado por esse “nosso amor” – e aqui entraria uma discussão que renderia outro texto sobre o que é amor, se ele é essa coisa branda, meiga e leve, como diz a literatura romântica, ou se ele é paixão, esse turbilhão de problemas, essa dor gostosa, como nos coloca o realismo.

Se o amor transforma, temos duas alternativas: ele nos transforma para melhor ou para pior.

Será que o amor verdadeiro e não patológico é aquele que nos transforma pra melhor? E aquele que nos transforma para pior é o amor não saudável, o doente, o patológico, o ciumento e doloroso? E então eu pergunto: o que é melhor e o que é pior? Será que o fato de amar, independentemente desse amar te transformar em algo bom ou ruim, já não é o suficiente?

Eu digo por mim, não vejo graça em amores mornos. Não vejo graça em fotos perfeitas dos casais que de baixo do mesmo teto têm armas e armadilhas contra eles. Vejo graça nos casais andando de mão dada na rua, mas acho tão desnecessário o beijo em público.

Voltando... E se não foi o amor que te transformou, mas ele só foi o desencadeador de um problema antigo e que não tem nada a ver com o amor em si? Eu sou dessa opinião.
As pessoas estão narcisistas demais para amar. Não sei se sou eu que acho isso pelo fato deu não acreditar no altruísmo idealizado pela sociedade cristã, mas pelas barbas do profeta, quem ama sem querer nada em troca? Amor incondicional? Jura?

Amor sem ciúmes existe? De acordo com Freud têm-se três tipos de ciúmes: “O primeiro seria o ciúme devido à concorrência com o rival, que inclui uma ferida narcísica; esse tipo se deve mais a uma questão de narcisismo, de se perder o ser amado, e de uma competição pessoal com o outro – de modo que, num aspecto ou no outro, o que está em questão é mais o amor próprio do que o amor ao outro. O segundo tipo seria o ciúme originado da projeção no outro de seus próprios desejos de infidelidade, realizados ou não. Algo como: se desejamos ter outras relações, supomos, inconscientemente, por uma projeção paranóide, que o outro deseja o mesmo. Já o terceiro tipo, que Freud considera delirante, teria como origem uma homossexualidade negada, como uma forma de se dizer, inconscientemente, que não é ele que ama o rival, mas ela”.

Então eu acho que o que te transforma, para pior, é o ciúme que o amor desencadeia. E o fato do ciúmes existir não é necessariamente culpa do outro, pra mim o ciúmes é algo que vem de dentro e é projetado em algo/alguém. Que culpa teria Capitu se Bentinho não era seguro de si o suficiente e acreditou que a perderia? Que culpa tem Capitu de se apaixonar por alguém com complexo de Édipo mal resolvido? Disso ela não tem culpa, mas será que ela poderia ter amenizado a situação? Será que ela poderia ter passado a mão na cabeça de Bentinho e tentar mostrar-lhe que ela estava ali pra sempre? E ai eu me pergunto se Bentinho acreditaria ou se pensaria ser um plano diabólico de Capitu para disfarçar seu amor por Escobar.

As pessoas sofrem! Sofrem porque vivem num mundo aonde as coisas vem e vão muito fácil. Por que meu amor não iria embora fácil, assim como veio fácil? Se o encontrei numa esquina, num bar, num metrô, por que cargas d’agua ele não iria encontrar outra pessoa nessa mesma facilidade? Sem falar na tentação carnal, não é? Não sei da onde as pessoas tiram a idéia de que só porque amo alguém significa que eu nunca sentirei tesão por outra pessoa! Amor não é castidade, pessoal!

Agora enquanto escrevo eu me deparo com a última pergunta – eu acho! – se o ciúme derivado do amor é o que faz ele nos transformar em algo pior, o que é que nos faz transformar em algo melhor?

Não acho uma resposta.

Pensei em algo aqui: quando você ama, e está em uma relação, normalmente o sexo é regular, e isso, com certeza, te transforma em uma pessoa melhor! Mas não é isso que estamos procurando, é?

Incrível! Posso citar centenas de coisas que me transformam em uma pessoa pior quando eu amo, mas ta difícil sair algo que me melhora no amor. Poderia citar os clichês, mas não é isso que eu quero, eu quero algo verdadeiro que eu possa atribuir a minha felicidade de amar. E eu sei que tem algo por de trás disso, porque se não nós não teríamos motivos para amar de novo.

[...]

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