3.12.09

O nada nada em nós.




Dias atrás, enquanto eu me segurava para não discutir e não chorar, eu me perguntei, ou melhor, eu concluí, que para muitos eu sou um nada. É bem vago esse “muitos” e esse “nada”, mas é bem por esse caminho mesmo.
Quando você paga um médico para ele cuidar do teu pulmão, judiado pelos cigarros, ou quando você observa um palestrante e tua oratória magnífica, digna de tantos e tantos anos de faculdade e horas e horas de livros e mais livros, você pensa que você é um nada.
Não lutei nenhuma batalha, não enfrentei leões alguns para conquistar um jaleco. Não me mexi para realizar o sonho de ser cantora, ou não me esforcei uma gota de suor para poder me tornar a melhor atleta da cidade. Você é um nada.
O dinheiro que trás a minha roupa, meus estudos, minha sandália, meu celular e meus anéis não é meu. Não conquistei dinheiro algum. Nem a falsa sensação que a mesada te da no começo do mês é tão ilusória a ponto de você acreditar que aquela grana é tua por merecimento. Eu não entreguei jornais de madrugada, eu não tirei leite de vacas, eu não servi mesas nem anotei pedidos, apenas ganhei R$100,00 no dia 10.
Você é uma inútil.
Uma inútil que reclama do corpo imperfeito, do dente não muito branco, da unha sem fazer, do cabelo sem corte, da pele oleosa, da falta de amigos e de oportunidades. Eu reclamo, mas não lembro que sou um nada.
Não catei tomate que nem minha mãe, não ajudei no sitio como meu pai. Eu sou um nada. E esse nada cresce a cada barreira que eu não ultrapasso. É constrangedor você vencer sem mérito, pelo menos pra mim que ainda tenho mínimo de consciência, e digamos uma certa dignidade de nada. É desmerecedor você vencer sozinha sendo que seu saco ta vazio, que bagagem você trouxe até aqui? Que experiência você tem pra contar? Quantos livros você já leu para alguém? Nós somos um nada.
Então eu, no meio desse nada, eu e meus problemas enormes em achar que sou “a esquecida”, “a isolada”, “a coitada”, eu enxergo, bem depois, que eu perdi a essência. Eu perdi o objetivo do jogo. Não sei se conquisto territórios, ou se destruo exércitos, não sei se jogo em dupla ou se estou só. Assim, volto a ser um nada.

2 comentários:

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

as vezes eu tenho vontade de te abraçar apertado e n soltar mais, moça...

caah müller. disse...

'mas é bem por esse caminho mesmo'as vezes mesmo não qerendo é por esse caminho MESMO ;@